Jornada do Herói: Como ela está presente na Gamificação e na sua vida

A Jornada do Herói… Um conceito pouco conhecido, mas que está presente em diversos momentos do nosso dia-a-dia e principalmente na nossa infância.
 
No entanto, vamos partir do início, o que é a Jornada do Herói e de onde veio essa ideia?

O Monomito

Esse conceito foi desenvolvido pelo antropólogo Joseph Campbell, que usou o termo em seu livro “The Hero with a Thousand Faces” (O Herói de Mil Faces), após diversos estudos realizados em cima das obras de James Joyce.
 
Dividido em três seções principais, o monomito possui:
  • Partida: É o momento em que o herói parte para sua aventura;
  • Iniciação: São as diversas aventuras nas quais o heróis se envolve;
  • Retorno: Definido pelo momento em que o herói volta para casa com os conhecimentos e aprendizados adquiridos em sua jornada;
E esses três padrões podem ser vistos em diversas histórias, desde clássicos da mitologia grega, como a Odisseia, até filmes hollywoodianos, como a trilogia de Star Wars.
 

O surgimento da Jornada

E onde está a Jornada do Herói em meio a tudo isso? Está exatamente no que foi falado até agora! O monomito pode ser visto como predecessor da Jornada do Herói, um “diamante bruto” descoberto por Campbell e lapidado por Christopher Vogler, um roteirista de Hollywood e executivo da indústria cinematográfica.
Vogler, com a intenção de criar um memorando para os estúdios Disney, estudou as teorias de Campbell e criou o livro The Writer’s Journey: Mythic Structure For Writers” (A Jornada do Escritor: Estrutura Mítica para Roteiristas), que sintetizou a jornada descrita no monomito e serviu de base para o desenvolvimento de diversos filmes, desde A Pequena Sereia até Mulan.
E nesse livro criado estava a tão esperada Jornada do Herói, um conjunto de doze etapas que formam uma bela história! De forma mais breve, as etapas podem ser definidas da seguinte maneira:
  1. O mundo comum: referente ao estado inicial da história (status quo), o mundo antes da aventura, quem é o herói, como ele vive e como ele é. É o momento que dá ao público um tempo para se identificar com o herói e com suas características;
  2. O chamado à aventura: o conflito inicial, o fator externo que tira o herói da sua área de conforto e o leva para a aventura, não necessariamente algo ruim ou dramático, mas sim um desafio;
  3. A recusa do chamado: seria aquele medo que se tem diante de algo novo, algo comum nas pessoas e essa etapa mostra que o herói também sente isso, tornando-o uma pessoa comum para o público, o que faz com que as pessoas se identifiquem com ele;
  4. O encontro com o mentor: é o momento em que o herói encontra alguém que o ajuda a melhorar, “ficar mais forte”, e dá o incentivo necessário para que ele supere seu medo, suas hesitações e enfrente o desafio do chamado à aventura;
  5. A travessia do primeiro limiar: é o primeiro passo em sua nova jornada, não necessariamente um lugar físico, mas uma jornada em algo que antes era desconhecido pelo herói;
  6. As provas, os aliados e os inimigos: a jornada começou e agora o herói se encontra num novo mundo e durante sua aventura passa por diversos desafios, faz aliados e encontra inimigos, é o período em que ele aperfeiçoa suas habilidades;
  7. A aproximação da caverna secreta: é o momento de dúvidas, quando o herói começa a se questionar e a questionar tudo aquilo que está fazendo. Ele vê que há um grande desafio vindo e isso o assusta e o faz recuar um pouco;
  8. A provação: a maior crise pela qual o herói passou, o desafio final que exige a união de todos seus conhecimento e todas suas forças. A superação da morte, a resolução de um conflito interno ou até uma luta com um vilão muito forte;
  9. A recompensa: o prêmio após a provação, podendo ser algo físico ou não, mas, metaforicamente, é a transformação que o herói passa por superar tantos desafios e se superar cada vez mais;
  10. O caminho de volta: a jornada está chegando ao fim e o herói está retornando para casa… Não há mais tantos desafios e sim um grande momento de reflexão sobre tudo o que aconteceu, tudo que ele sofreu e tudo que ele superou;
  11. A ressurreição: o ponto mais alto da história, em que um grande desafio aparece quando todos menos esperavam e, dessa vez, o herói precisa vencer, pois a derrota causará um dano extremo a tudo aquilo que ele conhece;
  12. O retorno com o elixir: e a jornada chega ao fim, o herói volta para casa com suas recompensas e é reconhecido por tudo que fez, ele resolve o desafio inicial e finaliza tudo aquilo que o fez sair em sua jornada.

A Jornada do Herói na Gamificação

Mas depois de ler tudo isso, você deve estar pensando “A jornada do herói é massa, mas pelo que eu li, serve pra fazer filmes… Onde entra a gamificação nisso?”, pois então, a ideia da Jornada do Herói pode ser aplicada na gamificação de forma muito útil, mas, como eu disse, a ideia da jornada e não ela completa.
 
Mas antes de continuar lendo, é importante saber o que é gamificação, então se você não souber, dá uma passa no nosso texto O que é gamificação e como ela pode mudar a sua vida (assim como mudou a minha)?“, e assim que terminar continua lendo o próximo parágrafo!
 
Algumas etapas, como o Chamado à aventura e a Travessia do primeiro limiar são importantíssimas no início de um sistema gamificado, pois servem para imergir o usuário nesse “novo universo” que a gamificação pode trazer. A imersão é muito importante para cativar usuários e influencia no sucesso ou falha de um projeto.
 
Você já parou para pensar no porquê de um jogo te prender por horas enquanto outros não? Um dos fatores que causa isso é a imersão, você se sente dentro daquele jogo, daquele mundo e passa horas lá sem perceber, e a Jornada do Herói se encaixa aí, na introdução do usuário a um universo novo e no manter ele nesse ambiente.
 
As etapas O mundo comum, A provação e O retorno com o elixir também servem de base para criar o Epic Meaning (Significado Épico) da gamificação, que é uma ferramenta essencial nas técnicas White Hat e que fortalece muito a imersão do usuário em toda história, pois dá um significado a mais para tudo aquilo que ele está experimentando.
 
A provação ainda entra em outro ponto importante, em conjunto com As provas, os aliados e os inimigos, que são as atividades realizadas durante a experiência gamificada. As tarefas iniciais devem ser mais simples, como as provas do herói, mas em um momento da história devem ficar difíceis, como a provação final, o que cria um maior engajamento dos players, de acordo com a Teoria do Flow.

A Jornada do Herói no Cotidiano

E lembra que eu tinha dito que a jornada estava presente em diversos momentos do cotidiano? Você já deve ter umas ideias, além dos filmes já citados, mas agora vou dar um exemplo que eu, particularmente, gosto de usar para explicar essa definição.
 
O filme Hércules, lançado pela Disney em 1997, a animação retrata a história do semideus Hércules, umas história comum da mitologia grega. O interessante do filme, analisando a partir da Jornada do Herói, é como ele demonstra de forma clara cada etapa do processo.
 
Elas podem ser definidas nas seguintes cenas:
  1. O início do filme no vilarejo;
  2. Os pais contando para Hércules que ele era filho de Zeus;
  3. A dúvida do que fazer e do seu potencial após encontrar com Zeus no olimpo;
  4. Os treinos com o “Phil”;
  5. A viagem até a cidade de Tebas;
  6. O “resgate” da donzela em perigo;
  7. As falhas e o não reconhecimento do herói nos primeiros atos heróicos, juntamente com os questionamentos que isso gera;
  8. As doze tarefas, sendo a hidra um desafio maior;
  9. O reconhecimento e a fama;
  10. O herói estabelecido em Tebas e o tempo de paz na cidade;
  11. Hades liberta os titãs e Hércules tem que derrotá-los;
  12. O mundo está salvo e Hércules volta para Tebas.
 
Existem outros pontos da história que se encaixam nas etapas (tanto que eu apaguei e reescrevi o parágrafo de cima várias vezes), mas todos eles servem para mostrar como a Jornada do Herói pode ser facilmente encontrada em vários filmes.
 
Séries, jogos e animes também seguem essas etapas, The 100, The Legend of Zelda, Hunter x HunterEntre vários outros. Praticamente tudo pode ser encaixado nas etapas da jornada, não necessariamente cumprindo todas elas, mas seguindo a maioria, e o mais interessante disso é que até a sua vida pode ser vista nas etapas da jornada!
 
O primeiro dia na escola? Parece muito com O chamado à aventura; Primeira reprovação? Acho que seria a Aproximação da caverna secreta… As noites viradas estudando para uma entrevista de emprego e, depois de todo sofrimento, a contratação?! Sem dúvidas seria A provação e A recompensa!
 
Não é difícil achar momentos na vida que se parecem com a jornada, e as coisas diárias até ficaram mais interessantes depois de eu explicitar isso, né?! Por isso que filmes, jogos e desenhos nos cativam tanto, porque vemos inspiração neles e isso nos dá motivação para fazer as coisas. Na gamificação funciona do mesmo jeito e, a partir da Jornada do Herói, é possível engajar as pessoas!
 
 
Texto por: Iuri Severo – Assessor de Marketing

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